segunda-feira, 28 de junho de 2010

eutanásia e cultura da morte

Recebi de um amigo a notícia de que há um asilo na Alemanha que se converteu em abrigo para idosos que fogem da Holanda com medo de serem vítimas de eutanásia a pedido da família. A notícia dá conta de que são quatro mil casos de eutanásia por ano na Holanda, sendo um quarto sem aprovação do paciente. É a instalação da indústria da morte.
No meio da discussão, um outro amigo meu fez a seguinte colocação: aqui no Brasil muitas famílias fazem o mesmo com os seus idosos, mas de forma dissimulada, abandonando-os em clínicas geriátricas, que de clínica somente têm o nome, pois na verdade são depósitos de idosos, onde eles vão apenas para morrer.

Eu respondi: a diferença é que a eutanásia aqui é ilegal, que temos o Ministério Público com o dever legal de fiscalizar o abandono dos velhos, e tais práticas podem resultar em processos criminais para os envolvidos. Não me parece ser uma diferença pequena com relação à Holanda, já que nunca se ouviu falar que um velho brasileiro tivesse que fugir do país, tornar-se um refugiado ou apátrida, para não ser morto pelo Estado ou pela família.

Não posso aceitar o argumento, sempre repetido, de que as sociedades que não descriminalizaram a cultura da morte, como a nossa, são apenas mais hipócritas do que as que descriminalizaram, como a Holanda e outros países europeus que liberaram a eutanásia e o aborto. Este argumento confunde uma situação de fato - a impossibilidade material de reprimir todos os crimes em qualquer sociedade - com uma de direito: o repúdio estatal e oficial do direito à vida, com a atuação positiva, com beneplácito ou fomento estatal, no sentido de eliminar os fracos e deficientes, seja por estarem nos ventres maternos, seja por estarem em asilos de idosos e hospitais. O Brasil está no primeiro caso, graças a Deus. A Holanda está no segundo.

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