quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Vamos começar a ler a Suma Teológica de São Tomás, desde o começo e sem prazo para acabar.

Queridos amigos, Voltamos a publicar aqui, e nosso plano é ler, aos poucos, a Suma Teológica´de Tomás de Aquino. Ler a suma como um leigo curioso, que se aproxima de um tesouro complexo, encoberto e difícil de explorar. Não somos clérigos, nem especialistas, apenas leitores ousados, com coragem para, nas horas vagas, avançar nesta leitura tão densa e enriquecedora. A Suma Teológica de Tomás de Aquino foi escrita por volta dos anos 1270. Tem, portanto, mais de 700 anos. É de compreensão dificílima para um leitor de hoje, ainda mais quando não tem especialização na área. Tradicionalmente, ela era lida em latim, nos Seminários católicos, por aqueles que estavam em formação para o sacerdócio ordenado - para ser padre. Mas, segundo se sabe, hoje ela é pouco lida até nesses ambientes; no entanto, facilita muito o fato de existirem boas traduções em português. Embora, para a leitura de um leigo, a tradução em espanhol, disponível gratuitamente para download em PDF na internet, tenha sido concebida exatamente para a leitura dos não especialistas. Recentemente, uma editora brasileira lançou uma edição em cinco volumes em português, sem comentários e notas de rodapé, da tradução clássica de Alexandre Correa de Barros, que também existe para acesso gratuito na internet. Existe uma outra tradução em português, mais nova, da Editora Loyola, mas eu não gostei muito - ela tem alguns erros de revisão e de indicações em nota de rodapé que parecem tornar mais confusa a Suma para não especialistas. Sabemos que a Suma é composta de três partes, a parte "primeira", a parte "segunda" (que, por seu turno está dividida em "primeira parte da segunda parte" e "segunda parte da segunda parte", e a parte terceira, que São Tomás de Aquino deixou incompleta, e foi completada por discípulos seus). para começar a ler a Suma, vamos começar pelo prólogo à parte primeira. Ali, Tomás de Aquino se apresenta como um "doutor da verdade católica". Ele diz: "O doutor da verdade católica tem por missão não somente ampliar e aprofundar os conhecimentos dos iniciados, mas também ensinar e colocar as bases aos que estão começando [incipientes]", e cita a Bíblia: 1Cor 3, 1-2: "Como a criancinhas em Cristo, eu vos dei por alimento leite a beber, e não carne para mastigar". Algumas coisas para meditar aqui, portanto: O título de ""doutor", que São Tomás usa, não envolve falta de modéstia, nem representa uma espécie de "cartada vaidosa" acadêmica: "doutor da verdade católica", para São Tomás, é um servidor, em dois aspectos: serve à verdade católica que recebe, e da qual deve ser um fiel depositário, e serve aos discípulos que deve formar. É com a humildade de um servidor, portanto, que São Tomás se apresenta, e não com a arrogância de um, digamos, "dotô" contemporâneo, desses que estamos acostumados a ver em universidades, tribunais e consultórios - e que, em geral, são tão mais posudos quanto menos competentes... Quanto aos seus interlocutores, São Tomás apresenta dois tipos: os iniciados, que estão buscando ampliar seus conhecimentos, e os principiantes - que é exatamente o meu caso. Ele diz, portanto, que está se dirigindo aqui aos iniciantes, não aos já iniciados. O que é surpreendente, porque qualquer um que já tenha avançado um pouco nas páginas da Suma saberá quão complexas elas são para um iniciante. Eu fico a imaginar que os iniciantes, ou principiantes, nos tempos de São Tomás, eram muito mais preparados do que os iniciantes de hoje em dia, como eu... Quanto ao conteúdo, São Tomás diz que é sua intenção oferecer, na Suma, "tudo o que diz respeito à fé cristã", e o seu método será fazê-lo "do modo mais adequado possível para que possa ser assimilado pelos que estão começando". O próprio São Tomás nota que os iniciantes do seu tempo tinham muita dificuldade de compreender a doutrina cristã, e por causa de algumas dificuldades, digamos, didáticas: "algumas vezes", ele diz, o estudo é difícil para o iniciante porque o material de estudo é ruim "pelo número excessivo de questões, artigos e argumentos inúteis", quer dizer, pela falta de objetividade na matéria, que dificulta tudo para o estudante inicial. Ele também critica o "método ruim" do material à disposição dos incipientes, porque as chaves desse saber são entregues não segundo a exigência interna da própria disciplina, mas segundo a ordem de algum livro didático que o professor está acompanhando, ou os debates que vão surgindo na exposição. Por fim, ele critica o material existente para os iniciantes porque o enredam em "constantes repetições" e divagações que causam confusão e aborrecimento nos novatos. Assim, São Tomás invoca a proteção e a ajuda de Deus para "remediar estes inconvenientes", e apresentar de forma bem breve e clara (sempre que o problema a tratar o permitir) tudo o que se refere à doutrina sagrada. Só me resta, depois de perceber que eu estou muuuito abaixo do nível daqueles que São Tomás chama de "párvulos", "incipientes" e "noviços" no seu texto, pedir também a proteção de Deus para enfrentar esta obra espetacular que se chama "Suma Teológica", mas que na verdade é um compêndio de filosofia, cosmologia, antropologia, psicologia, teologia e lógica (não necessariamente nesta ordem), entre outras coisas, e que alguém já chamou de "catedral gótica de conhecimento humano". Seguirei o ritmo que Deus permitir. Paz e bem! o projeto está sendo desenvolvido nesse endereço: https://lerasumateologica.wordpress.com/

Um comentário:

  1. Pela vez segunda, estou iniciando a leitura da Suma Teológica. É o meu desafio para o ano de 2020.

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