terça-feira, 6 de setembro de 2011

O indiculus - resumo livre



Alguns, autodeclarando-se católicos, alegam concordar com a Santa Sé quanto à condenação dos pelagianos, mas censuram alguns mestres (em especial Santo Agostinho) como se houvessem exagerado em suas posições, no que diz respeito à Graça.
Daí a necessidade que teve a Santa Sé de publicar o indiculus (breve índice) sobre as questões pertinentes à Graça, para que se saiba qual é a verdadeira doutrina católica no particular.
O indiculus (cerca do século VI) foi atribuído inicialmente ao Papa Celestino I, mas hoje a tendência da historiografia é de atribuí-lo a São Próspero de Aquitânia. No entanto, quem quer que tenha sido o seu redator, o indiculus foi aprovado por sucessivos Papas como expressão autêntica da fé da Igreja, inclusive – e expressamente – numa carta do Papa Hormisdas ao Bispo africano Possessor, de 13.08.520.
Em apertadíssima suma, eis o que trata o indiculus:
1. Ninguém é bom por si mesmo, senão na medida em que Aquele que é o único Bom lhe der a participação de si (Mt 19. 17; Mc 10, 18; Lc 18, 19) Os que pensam que podem, por mérito próprio, ser justos, sem levar em consideração Aquele de quem recebem diariamente a Graça, e confiam poder conseguir grandes coisas sem Deus, desses certamente não podemos esperar algo de bom daqui para a frente.
2. Ninguém é capaz de resistir às concupiscências da carne ou às tentações do Diabo se não receber de Deus a ajuda diária na perseverança para a boa conduta.
3. Mesmo depois do batismo, o Senhor sabe que poderemos pecar de novo, reservou muitos meios para reerguer-nos, oferecendo-nos diariamente remédios sem cujo auxílio e sustentação jamais poderemos vencer os erros humanos. É de fato inevitável que, se vencemos com seu auxílio, sejamos irremediavelmente vencidos sem ele (Inocêncio I).
4. Só se faz bom uso do livre arbítrio pela graça de Cristo. Inocêncio I diz: “foi precisamente a liberdade que enganou o primeiro homem, que caiu no pecado por presunção, após ter afrouxado com excessiva indulgência os freios. E do estado de pecado não se poderia sair sem que a Providência o tivesse restituído ao primitivo estado de liberdade, com a regeneração proveniente do advento de Cristo.
5. Todo o empenho, todas as obras e méritos dos santos devem ser referidas à glória e louvor de Deus. Ninguém pode agradar a Deus senão por aquilo que Ele mesmo lhes dá. Papa Zózimo: “Não se deve exaltar a liberdade do arbítrio humano. A vontade para o bem é preparada pelo Senhor. Ele move os corações dos Seus filhos com paternais inspirações, para que façam algum bem. Em cada bem movimento da vontade humana, tem mais força o Seu auxílio.
6. De tal modo Deus age no coração dos homens e no próprio livre arbítrio que um santo pensamento, um piedoso propósito e todo movimento de boa vontade vêm de Deus, porque por Ele podemos algum bem, mas sem Ele nada podemos, Jo 15, 5. Diz o Papa Zózimo: “Não há tempo em que não necessitamos da ajuda de Deus. Em todos os nossos atos, dúvidas, pensamentos e sentimentos devem ser invocado nosso auxiliador e protetor. É soberba presumir algo de si.
7. A Santa Sé reconhece o Concílio de Cartago.
8. Os Padres ensinaram-nos a repelir a nefasta novidade pelagiana, ensinando-nos a atribuir à Graça de Cristo tanto o início da boa vontade quanto o aumento dos louváveis esforços e a perseverança neles até o fim. Consideremos o mistério das orações sacerdotais, sob a luz do princípio lex orandi, lex credendi. Quando se pede a clemência divina (para os hereges, cismáticos, infiéis, judeus, pecadores e catecúmenos) estas graças não são pedidas por mera formalidade, nem inutilmente. Deus se digna atrair a si muitíssimos homens, arrancando-os do poder das trevas para o Reino de Amor. Isto é de tal modo obra divina que se dá louvor e ação de graças a Deus por elas.
9. É assim que a Igreja age com os jovens e crianças que serão batizados. Não chegam à fonte da vida sem primeiro passar por um exorcismo, para liberar-se do “Príncipe deste mundo”, entregando-se a alma assim resgatada às mãos daquele que “venceu o homem forte”.
Professamos que Deus é o autor de todas as boas obras e disposições da alma e de todos os esforços e virtudes com que, desde o início da fé, tendemos para Deus, e não duvidamos que todos os méritos do homem são precedidos pela Graça daquele por quem começamos a querer e a fazer algum bem.
Por este auxílio o livre arbítrio não é tirado, mas libertado da cegueira, do desvio, das patologias e da imprudência. Deus, na sua infinita bondade, quer que sejam méritos nossos o que são dons seus. Dar-nos-á recompensas eternas por aquilo que ele mesmo nos deu praticar.
Deus não quer que em nós fique inativo aquilo que Ele nos deu para ser posto em ato, e não negligenciarmos. Se fraquejamos, recorramos a Ele, que salva a ruína de nossas vidas. Peçamos a Ele que nos livre do mal!
Para confessar a Graça de Deus, cremos, pois, ser suficiente o que nos ensinam os escritos da Santa Sé, e quem sustenta no contrário não pode se declarar católico. (Indiculus, resumo livre).

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