sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Em que creem os que creem

Eu estava agora no Shopping Iguatemi. Fui até lá para tentar assistir ao filme “homens e deuses”, que conta a história de religiosos trapistas que foram massacrados pelos muçulmanos na Argélia. Infelizmente o filme saíra de cartaz. Decepcionado, estava indo embora, quando resolvi passar na Livraria Cultura, para fazer uma coisa de que gosto muito, futucar livros.
Estava assim, concentrado e reclinado, mexendo nuns livros, quando encontrei um casal de professores meus, pessoas maravilhosas, profundos católicos. Após os cumprimentos de praxe, o professor, muito ligado às correntes mais liberais e “sociais” da Igreja, mostrou-me um livro: era o livro “em que creem os que não creem”, de Umberto Eco e Carlo Maria Martini. E me disse:
“Olha que bom livro! Pura doutrina Social da Igreja”. Você devia comprar.
E começou a ler a contracapa, que tratava de autotranscendência e sede de absoluto.
Fiquei calado. São tempos difíceis estes, e evito dar minha opinião sobre questões polêmicas, mesmo para quem se declara “católico”. É que as pessoas têm o péssimo hábito de ficar agressivas e retrucar com veemência quando você alega não concordar com alguém ou alguma coisa porque eles discordam da Igreja.
O professor perguntou:
Você sabe quem são estes? É o Umberto Eco e este outro aqui, o Martini, é um Cardeal!
Sim, eu sabia quem eram os dois, e minha opinião sobre os dois não era lá muito favorável. Limitei-me a dizer laconicamente:
Sim, eu os conheço.
O professor prosseguiu:
Você devia comprar este livro, é muito interessante, temos que dialogar, romper nosso isolamento, saber o que creem os que não creem, para arejar a Igreja, promover o cristianismo, romper nosso fechamento!
Eu realmente não queria dar minha opinião, mas ele insistia muito fortemente.
Olha – eu disse, medindo e pesando as minhas palavras – eu admiro muito a sua fé. - Tenho dificuldade de lidar com a minha própria, que é fininha como uma casca de ferida. Só olhar este tipo de livro já me dá uma grande ansiedade.
A professora, esposa do professor, que até então estivera olhando a estante à minha frente, ouviu só o final da minha frase e perguntou:
Ah, você está ansioso para ler o livro?
Ainda hesitando com as palavras, mas com o dever de sinceridade, respondi, com muita cautela:
Não, senhora, na verdade a ansiedade é para não ler. Este tipo de livro me deixa muito angustiado.
Você não tem curiosidade de conhecer em que creem os que não creem?
Não – respondi eu. - Na verdade, eu sei exatamente em que creem os que não creem. Eu era um deles até pouco tempo. Interessa-me agora saber exatamente em que creem os que creem, para que eu próprio possa ser um bom cristão.
A nossa conversa acabou aí, entre sorrisos amarelos de ambos os lados.

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