A graça do Espírito Santo tem o poder de nos justificar, isto é, purificar-nos de nossos pecados e comunicar-nos a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo (Paulo diz em Romanos 3, 22: “Justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor dos que creem” e pelo batismo.
A graça do espírito Santo nos justifica. Isso significa:
1. Purificar-nos dos nossos pecados.
2. Comunicar-nos a justiça de Deus, pela fé.
Como será dito abaixo, a expressão “justiça de Deus” significa “a retidão do amor divino”, que perdemos pelo pecado original. A amizade inicial com Deus, que nos foi concedida por graça, é retomada, também por graça, pelos méritos da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos são aplicados com duas condições: a fé e o batismo. Eles nos devolvem a vida sobrenatural, pela qual voltamos à amizade com Deus, e que nos foi perdida pelo Pecado Original.
É neste tom que o catecismo passa a citar Rm 6, 8-11: “Mas, se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele, sabendo que Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte já não tem mais domínio sobre Ele. Porque, morrendo, Ele morreu para o pecado de uma vez por todas; vivendo, Ele vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus (Rm 6,8-11).”
Pelo poder do Espírito Santo, participamos da Paixão de Cristo, morrendo para o pecado, e da ressurreição, nascendo para uma vida nova; somos os membros do seu Corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na Videira, que é Ele mesmo. (A imagem da videira está em João 15, 1-4). Neste sentido, temos a vida sobrenatural, mas não como uma propriedade, mas como uma relação: a relação com Nosso Senhor Jesus Cristo, na Igreja. Eis a diferença fundamental entre os gnósticos e os cristãos. Para aqueles, somos divinos por natureza, apenas não sabemos disso porque estamos presos na matéria má e entorpecidos pelos falsos conhecimentos. Para nós cristãos, somos divinizados apenas por graça, enquanto permanecermos no amor de Deus, que é amor trinitário em si mesmo.
Sobre isso, Santo Atanásio diz: “Pelo Espírito, temos parte com Deus. (…) Pela participação do Espírito, nós nos tornamos participantes da natureza divina. (…) Por isso, aqueles em quem o Espírito habita são divinizados.” (Ep. Serapião).
A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão que opera a justificação segundo o anúncio de Jesus Cristo no princípio do Evangelho: “Arrependei-vos (convertei-vos), porque está próximo o Reino dos Céus.” (Mt 4, 17). Sob a moção da graça, o homem se volta para Deus e se aparta do pecado, acolhendo, assim, o perdão e a justiça do alto. “A justificação comporta a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do homem interior”. É o que diz o Concílio de Trento, DS 1528. Vale dizer, Deus Nosso Senhor, no seu amor trinitário, transborda a graça em nosso favor, tem a primazia do amor, toma a iniciativa de nos buscar. Envia a graça que nos faz querer a conversão, e a graça que também nos aparta do pecado e nos faz acolher o perdão e a justiça do alto. Sem a graça, não nos convertemos. Sem a graça, não somos justificados. E não somos nós os que tomam a iniciativa de convertermo-nos, mas Deus nos manda a graça para que queiramos a nossa conversão. A justificação, então, comporta:
1. A remissão dos pecados;
2. a santificação.
3. A renovação interior do homem.
A justificação não é, portanto, uma “capa” que é colocada por cima de uma suposta “podridão” humana irremediável, como creem alguns. A justificação importa uma real remissão dos pecados, um processo real de santificação e uma renovação interior do homem, que completa, por mera bondade e por mera liberalidade divina, a deficiência que existe em nossa natureza ferida pelo pecado original. Tudo isso se aperfeiçoa no sacramento do batismo. É certo, no entanto, que a santificação é um processo, e que o homem pode resistir à graça e escolher ficar longe de Deus. A iniciativa para o mal é sempre do homem, e é sempre possível, mesmo naqueles já justificados – por isso, São Paulo dirá: “quem está de pé, veja que não caia” (1Cor 10, 12). Por isso, a justificação é como uma florzinha suave, que precisa ser cuidada e regada todo dia, e que precisa, em alguns casos, de uma intervenção drástica para não morrer – consistente no sacramento da confissão (Jo 20, 22-23). Mas nos faz santos de verdade, àqueles que não resistem à graça.
A justificação aparta o homem do pecado, que contradiz o amor de Deus, e lhe purifica o coração. A justificação ocorre graças à iniciativa da misericórdia de Deus, que oferece o perdão. A justificação reconcilia o homem com Deus; liberta-o da servidão do pecado e o cura.
São três efeitos, portanto, da justificação:
1. Reconcilia o homem com Deus.
2. Liberta-o da servidão do pecado.
3. Cura-o.
A justificação é, ao mesmo tempo, o acolhimento da justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo. A justiça designa aqui a retidão do amor divino. Com a justificação, a fé, a esperança e a caridade se derramam em nosso corações é é-nos concedida a obediência à palavra divina.
São as chamadas virtudes infusas, que não são concedidas como efeito do batismo, e que tantos nem sabem que possuem, que eu muitas vezes desprezei em muinha vida (quase sempre!) que são verdadeiros depósitos à disposição de todos nós, justificados pelo batismo e tornados filhos de Deus (e nós o somos!, 1Jo 3,1)
A justificação nos foi merecida pela paixão de Cristo, que se ofereceu na cruz como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de toda a humanidade. A justificação é concedida pelo Batismo, sacramento da fé. Torna-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo poder de sua misericórdia. Tem como alvo a glória de Deus e do Cristo, e o dom da vida eterna (Trento, DS 1529). Ninguém pode merecer a graça, mas a morte, nós merecemos: o salário do pecado é a morte (Rom 6, 23), mas a Vida Eterna nos vem por dom, para a glória de Deus e do Cristo.
“Agora, porém, independentemente da lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos os que creem – pois não há diferença, visto que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus – e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus o expôs como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé. Ele queria assim manifestar sua justiça, pelo fato de ter deixado sem punição os pecados de outrora, no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente, para mostrar-se justo e para justificar aquele que tem fé em Jesus (Rom 3, 21-26).
A justificação estabelece a colaboração entre a graça de Deus e a liberdade do homem. Do lado humano, ela se exprime no assentimento da fé à palavra de Deus, que convida o homem à conversão, e na cooperação da caridade, no impulso do Espírito Santo, que o previne e guarda. A graça pressupõe a natureza, nunca a violenta. A liberdade é elevada pela Graça; não há oposição entre liberdade e graça, ao contrário, somente há verdadeira liberdade na graça.
O texto ficou muito longo, continuarei depois.
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