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quarta-feira, 11 de abril de 2012
Em que acredito (Um pequeno resuminho sobre alguns pensamentos)
Não se pode começar a pensar no Universo com a dúvida, tampouco com o "eu". Qualquer discurso tem que ter pressupostos, como eu disse em "Seis dogmas para escrever". Não se pode começar um discurso ou uma discussão se não se acredita em certos pontos, como, por exemplo, que o código é válido e cognoscível e exprime as ideias que foram pensadas com fidelidade. Da mesma forma, antes de começar a falar sobre o Universo, tem que se acreditar em alguma coisa, ter um ponto de partida concreto, absoluto, e esse ponto é Deus.
Não se pode tomar como ponto de partida a dúvida, pois, como Santo Anselmo disse: "Eu não procuro compreender para crer, creio para compreender pois não poderia compreender se não acreditasse." O ceticismo absoluto tem que duvidar até da dúvida, e não pode começar nunca um pensamento. É quase como uma criança birrenta, que diz "duvido" para qualquer coisa que falemo-na. Não se pode discutir se não se acredita na verdade, pois a discussão não levaria a lugar nenhum; da mesma forma, não adianta procurar sentido no Universo se se duvida do Universo e até do próprio sentido, pois essa busca não daria resultado algum. Ressalto que "dúvida" aqui se aplica à descrença do cético absoluto, não à dúvida metódica de Descartes, pois Descartes não duvidava de tudo, não da dúvida, pelo menos.
Tampouco se pode tomar como ponto de partida a existência do "eu", porque o "eu" não é absoluto e infinito; o Universo não está submetido ao homem, mas a Deus, que é o criador de todo o Universo. Deus, como arkhé da physis, é o maior ser concebível, pois nada está além dEle e nada é anterior a Ele. Se Deus fosse imaginário, ele não seria o maior ser concebível, pois conceber-se-ia um ser que teria, além de todas as qualidades do deus imaginário, mais uma: a realidade. Este Deus real seria, portanto, maior do que o Deus imaginário, o que geraria um absurdo.
Deus é a causa primeira, Ele é causa de si próprio, é o único ser absoluto e infinito do Universo, mas não é o primeiro ser em que pensamos quando olhamos para o Universo. Deus não está na natureza, mas, como podemos ver as digitais do artista na escultura de argila ou as pinceladas na tela, podemos ver a mão de Deus ao olharmos para a natureza. A criatura não pode superar o criador, um computador não pode ser maior que quem o projetou, pois tudo que está no computador veio do projetor, mas nem tudo do projetor foi passado para o computador. Da mesma forma, a natureza tem que ser criatura de um ser maior que ela. Se a natureza é organizada, e não um completo caos, o seu Criador tem que ser racional. A natureza não poderia ter fim em si mesma, porque ela foi criada, mas seu Criador sim, pois, como diz Parmênides, o Ser não poderia ter sido criado, pois isso implicaria em outro Ser; nem poderia ter sido criado do nada, pois isto implicaria a existência do Não-Ser. Portanto, o Ser simplesmente é.
É, factualmente, difícil aceitar a ideia de eternidade, ainda mais a de Deus, pois, se já é difícil pensar em eternidade para o futuro, muito mais é para o passado. O tempo é criatura, portanto, teve um início, a sua criação. É difícil pensar no infinito para o futuro, mas é impossível pensar no infinito para trás, pelo menos no plano temporal, mas o tempo está aquém de Deus, por ser uma criatura. Deus não "existiu em" ou "existiu a partir de", mas Ele simplesmente existe, Ele não está submetido ao tempo.
Nenhum ser em potência se tranforma, segundo São Tomás de Aquino e Aristóteles, em um ser em ato por si só, precisa da intevenção de um ser em ato. Uma matéria prima não pode se tornar um artefato por si só, precisa da intervenção do homem. Deus é o ato puro, ele é imutável, estático, e pode tranformar toda potência em ato, e a matéria é pura potência, ela é mutável, dinâmica, e pode ser tranformada, mas não pode transformar. Tudo no Universo é composto por ato e potência. O ser humano, por ser ato, pode mudar as coisas, e, por ser potência, pode ser mudado.
Voltando à natureza, primeiramente nós temos as experiências sensoriais dos seres, para então formarmos nosso conhecimento a partir da abstração das experiências. Nós olhamos a natureza, e pensamos que esta só pode ter sido criada por Deus, e nós só podemos fazê-lo porque sabemos que nossas experiências sensoriais condizem com a realidade em que estamos. Não é possível que tudo seja apenas fruto da minha mente, pois isto significaria que eu teria criado o Universo, portanto eu seria Deus, o que não é verdade, pois eu estou sujeito às leis do Universo. E é certo que as minhas experiências sensoriais condizem com a realidade na qual estou inserido, uma vez que todos nos vemos os objetos nos mesmos lugares, com as mesmas características.
Também os seres ditos materiais têm que ser constituídos de matéria, e não de ideia, pois, se a mesa que eu olho fosse um pensamento da minha mente, então ela teria que ser exatamente igual no pensamento de todos. A mesa de fato é a mesma para todos que a olham, mas os seres mais complexos, como um esquilo, não pode ser tudo o que se pensa dele. Se eu tenho uma ideia do esquilo e outra pessoa tem outra ideia, o esquilo não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo; princípio da não-contradição. Dizer que a matéria é dependente da minha mente é inconcebível, pois isto implicaria dizer que as outras pessoas também o são, pois a matéria não pode ser dependente da minha mente e da de outrem ao mesmo tempo. E, se as pessoas fossem dependentes da minha mente, eu seria Deus, e isso é impossível.
Da mesma forma, dizer que os seres ditos materiais são pensamento da mente de Deus, e não feitos de matéria, seria dizer que estamos todos na mente de Deus, e somos ideias dele, parte dele. Mas não somos, somos criaturas, e somos distintos de Deus, pois somos pessoas, sengundo a definição de Boécio, de que pessoa é uma "substância individual de natureza racional." Ou seja, é algo que existe por si (substância), é distinto dos outros seres (individual) e tem capacidade de agir por si (natureza racional). (Pedro Jacobina)
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