A Igreja, desde os tempos apostólicos, reuniu-se no domingo (primeiro dia da semana) para celebrar o Senhor. Há alguns membros de seitas que acusam a Igreja de paganismo e antibiblicismo por guardar o domingo, e não o sábado. Mas a Igreja, desde os tempos de Jesus ressuscitado e ainda não elevado aos céus, celebra a eucaristia no domingo, e isso não tinha nada a ver com nenhum culto pagão. Este fato está muito bem documentado ao longo da história. Os cristãos sempre reuniram-se no domingo para celebrar a Ressurreição (Lc 24, 1) e o partir do pão. Sempre entendemos, nós cristãos, que o descanso do Senhor no sábado, mencionado em Genesis 2,2, era a profecia do dia em que Jesus passaria no túmulo. Um tipo, uma sombra do que seria depois consumado em Jesus. Houve quem quisesse insistir nesse judaísmo desde os tempos de São Paulo. Mas ele sempre lutou contra a infiltração de idéias judaizantes, sobretudo quando escreve "que ninguém vos critique por questões de alimentos ou bebidas ou de festas, luas novas e sábados. Tudo isto não é mais do que a sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2,16-17; v.tb. 2Cor 5,17).
De fato, Cristo é o repouso do cristão, Mt 11, 28-30, e o sábado era apenas a figura, a sombra do repouso que empalidece diante dele ,que é o Senhor do sábado. (Mc 2, 27). Adoramos, portanto, a Jesus, nosso Deus, e não ao sábado.
Jesus colocou a si mesmo e à caridade acima da observância do sábado (Mt 12,10-14; Lc 13,10-17; 14,1-6; Jo 5,8-18), usando o conhecidíssimo bordão: "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado" (Mc 2,27). Com estas palavras, o Senhor quis afirmar que o sábado era um meio para o homem alcançar a união com Deus e não um fim em si mesmo. Por isso, declarou que era o Senhor do Sábado (Mc 2,28) e foi incriminado pelos doutores da Lei (Jo 5,9), ao que respondeu que nada mais fazia senão imitar o Pai que, mesmo entrando em repouso após ter criado o mundo, continuou a governá-lo e também os homens (Jo 5,17).
Se, no princípio, os discípulos observaram o sábado para pregar o evangelho nas sinagogas (At 13,14; 16,13; 17,2; 18,4) logo se deram conta que a Nova Lei havia superado a Antiga. Os cristãos, então, passaram a realizar seus cultos no dia seguinte ao sábado, isto é, no domingo, dia em que o Senhor Jesus ressuscitou (alias "domingo" vem de "domini dies", isto é, "Dia do Senhor"). Diversas são as provas bíblicas da observância do domingo: Jo 20,22-23.26; At 2,2; At 20,7-16; 1Cor 16,1-2; Ap 1,10. Registre-se, portanto, que o domingo era o dia em que os cristãos se reuniam, para partir o Pão e encontrar-se com o Senhor ressuscitado. Dessa forma, a perspectiva cristã sempre enxergou o antigo sábado dos judeus como uma figura, da mesma forma que outras instituições do AT.
Quanto aos documentos históricos dos primeiros séculos, inúmeros são os testemunhos que comprovam a santificação do domingo pelos primeiros cristãos: Didaqué [~96 dC] (Did. 14,1), Plínio [séc.II dC] (governador da Bitínia - Ad Traj. X,96,7), Sto. Inácio de Antioquia [~100 dC] (Magn. 9,1), S. Justino Mártir [153 dC] (1Apol. 67,3,7), Constituições Apostólicas [séc. III]. Todos documentos perfeitamente conservados e ainda existentes. Todos anteriores a Constantino, para desmentir aqueles que afirmam que foi Constantino que introduziu na cristandade o hábito de guardar o domingo, advindo do paganismo. Todos os documentos patrísticos, no entanto, até aqueles subscritos por cristãos que preferiram morrer no martírio a aceitar qualquer paganismo, registram o costume cristão de reunir-se no domingo para a celebração eucarística.
Tertuliano, por exemplo, escritor eclesiástico, deu testemunho de que no século II os cristãos já observavam o Domingo:
"Outros, de novo, certamente com mais informação e maior veracidade, acreditam que o sol é nosso deus. Somos confundidos com os persas, talvez, embora não adoremos o astro do dia pintado numa peça de linho, tendo-o sempre em sua própria órbita. A ideia, não há dúvidas, originou-se de nosso conhecido costume de nos virarmos para o nascente em nossas preces. Mas, vós, muitos de vós, no propósito às vezes de adorar os corpos celestes moveis vossos lábios em direção ao oriente. Da mesma maneira, se dedicamos o dia do sol para nossas celebrações, é por uma razão muito diferente da dos adoradores do sol. Temos alguma semelhança convosco que dedicais o dia de Saturno (Sábado) para repouso e prazer, embora também estejais muito distantes dos costumes judeus, os quais certamente ignorais" (Tertuliano 197 d.C. Apologia part.IV cap. 16).
Antes mesmo de Tertuliano, S. Justino de Roma, mártir da fé, já dava testemunho do culto cristão aos domingos:
"Depois dessa primeira iniciação, recordamos constantemente entre nós essas coisas e aqueles de nós que possuem alguma coisa socorrem todos os necessitados e sempre nos ajudamos mutuamente. Por tudo o que comemos, bendizemos sempre ao Criador de todas as coisas, por meio de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo. No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se leem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: ‘Amém’. Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos. Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provedor de todos os que se encontram em necessidade. Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame" (Justino de Roma 155 d.C, I Apologia cap 67) (grifos meus).
S. Inácio de Antioquia, anterior mesmo a Tertuliano e a Justino, e também mártir da fé, igualmente confirmava o antigo costume de observar o domingo entre os cristãos:
"9. Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. Alguns negam isso, mas é por meio desse mistério que recebemos a fé e no qual perseveramos para ser discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre. Como podemos viver sem aquele que até os profetas, seus discípulos no espírito, esperavam como Mestre? Foi precisamente aquele que justamente esperavam, que ao chegar, os ressuscitou dos mortos. 10. Portanto, não sejamos insensíveis à sua bondade. Se ele nos imitasse na maneira como agimos, já não existiríamos. Contudo, tornando-nos seus discípulos, abraçamos a vida segundo o cristianismo. Quem é chamado com o nome diferente desse, não é de Deus. Jogai fora o mau fermento, velho e ácido, e transformai-vos no fermento novo, que é Jesus Cristo. Deixai-vos salgar por ele, a fim de que nenhum de vós se corrompa, pois é pelo odor que sereis julgados. É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que acredita em Deus " (Santo Inácio de Antioquia, aos Magnésios. 101 d.C.) (grifos meus).
Mas urge dizer que há registros bem mais primitivos do culto cristão no domingo. O primeiro Catecismo Católico testifica a antiga guarda do domingo: "Reúnam-se no dia do Senhor [= dominica dies = domingo] para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro" (Didaqué 14,1, cerca de 96 dC) (este documento foi escrito quando ainda viviam alguns dos apóstolos, sendo anterior mesmo a alguns documentos bíblicos).
Respeito os que creem diferente. A liberdade de crença inclui a liberdade de recusar a verdade histórica. Mas deve incluir também o respeito por aqueles que, como os católicos, prezam-na. Guardar o domingo é observar a Bíblia e a santa Tradição cristã.
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