sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O professor de biologia e a perda da fé

Outro dia meu filho chegou da escola confuso. Ele me disse que o
professor de Biologia havia ensinado aos alunos que cientistas estavam
conseguindo criar seres vivos em laboratório, a partir de elementos
químicos, e que isso era o fim da idéia de um deus criador, como o
cristão. Ideia que a ciência estava conseguindo destronar e soterrar
de vez. O professor lhe ensinara que a vida é resultado de forças
cegas, que fortuitamente juntam os elementos numa ordem evolutiva, ao
longo de bilhares de anos de seleção e evolução casual e impessoal.
Hum, parei. Então contei uma historinha ao meu filho.
“Imagine, filho amado, que uma criança está andando pela sua escola,
num sábado sem aula, e descobre uma caixinha cheia de peças de lego no
chão. Ao lado, está a tampa da caixa, com a foto de um robô de lego,
bem bonito. “
“Imagine, então, que a criança sentasse ali e, olhando para aquela
foto e usando aquelas pecinhas, montasse um robô igualzinho ao da
foto. Depois, a criança saísse gritando pela escola: ‘gente, a
fábrica de lego não existe!’”
“Mas o que ele fez não prova que a fábrica de lego não existe, prova
apenas que o menino descobriu a ordem certa em que as pecinhas
deveriam ser juntadas para atingir o resultado que o engenheiro do
brinquedo visava para ele”, completou meu filho.
“Exato. Esta é a verdadeira questão. Por que existe algo, ao invés de
nada? E que este algo seja dado ao cientista, uma vez que ele não
consegue criar “algo” do “nada”? E porque este algo, quando juntado em
determinada ordem, e não em outra – ordem esta que não é determinada
pelo cientista, mas sim por ele descoberta – poderia resultar em
criar um ser vivo em laboratório? Isso, se admitirmos que se pode criar um ser vivo em laboratório, o que, ao que eu sei, ainda não foi feito.”
“Entendi, pai”, disse meu filho. “Somente Deus cria algo do nada”.
“Há mais uma coisa”, eu disse a ele. “No laboratório, há um cientista
genial, cercado de equipamentos altamente tecnológicos e um ambiente
cuidadosamente estudado. Como o resultado de pesquisas assim pode
comprovar a ação do acaso? Como se pode comprovar que as coisas
surgiram na natureza fortuitamente, que não há um ser transcendente,
inteligente e previdente por trás da natureza, através de
experiências conduzidas por cientistas, que são seres pessoais, pensantes, inteligentes e metódicos, num laboratório sofisticado? Se a ciência comprova que um
cientista, usando os mais altos recursos da inteligência humana, pode
produzir vida em laboratório utilizando-se de matéria inerte
preexistente, contando com um modelo para copiar, como pode daí
concluir que a vida que existe fora do laboratório surgiu do nada sem
o concurso de uma causa inteligente? “
“Para provar isso”, disse o meu filho, “seria necessário que
documentássemos o surgimento casual e espontâneo da vida, fora de
laboratório?”
“Nem assim”, respondi. “Neste caso, apenas provaríamos a geração
espontânea, nunca a casual, porque a casualidade não é um fato, para
ser provado. A casualidade é exatamente a impossibilidade de
explicação metódica...”
“E contradiríamos um grande cientista, Louis Pasteur”, concluí. “Não contradiríamos a
Bíblia, nem a fé. Sabia que os maiores teólogos, como Santo Agostinho e São Tomás, acreditavam na possibilidade da geração espontânea da vida? Seguiam Aristóteles, neste particular. Foi Pasteur, um cientista, quem provou o contrário...”.
“E o tempo?” perguntou meu filho. “O acaso não poderia funcionar, se
esperássemos bilhões de anos?”
“Qualquer pessoa pode acertar, por mera sorte, uma tacada no bilhar.
Mas quando o jogador faz uma série de cem, é uma justificação muito
fraca dizer que ele teve sorte. Agora, o que seu professor está
dizendo é que a explicação para uma série perfeita de bilhões de
tacadas certeiras é o fato de que não existe jogador e todas as
chances estão contra, mas mesmo assim as tacadas certeiras aconteceram! Não importa se passa um ano ou um bilhão de anos. A matemática da probabilidade não muda com a passagem do tempo...”
“Não é uma boa explicação, não é, pai? Acho que meu professor exagerou, tirou conclusões que não cabiam nas premissas que ele adotou.”
Meu filho saiu menos angustiado. Mas eu não posso deixar de pensar em
quantos jovens não tiveram a oportunidade de ter esta conversa, e
perderam a fé...

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