Quero fazer alguns comentários sobre o livro “a revelação de Deus na Realização Humana”, de
Andrés Torres Queiruga, publicado entre nós pela Editora Paulus, que seria, segundo alguns “professores” de teologia autoproclamados “católicos”, e responsáveis pela formação de novos padres em nossos seminários, a nossa base de doutrina teológica católica para introduzir-nos no conhecimento mais profundo da fé, um “telescópio” para “enxergar mais longe”.
Lembrei-me do nome do autor, Torres Queiruga, como membro de uma “associación de teologos Juan XXIII”, da Espanha, que assinou um manifesto agressivo contra Ratzinger e João Paulo II, por ocasião da publicação do documento Dominus Jesus. Essa carta, também subscrita por Leonardo Boff, Hans Küng, Jon Sobrino e outros teólogos já notificados pela Congregação da Doutrina da Fé, imputa a Ratzinger e João Paulo II a acusação de “inoportunos, ofensivos e insensíveis”, para grifar apenas alguns dos “elogios” com que cobrem o antigo e o atual Papa.
Essa “associação de teólogos”, que, como veremos, não tem reconhecimento eclesial, defende, conforme notícias jornalísticas que existem em espanhol na internet, o matrimônio homossexual, o casamento dos sacerdotes, o aborto e outras questões gravemente ofensivas a nós católicos. O certo é que, em pelo menos uma dessas notícias, o próprio Queiruga, autor do livro que menciono agora, que está sendo recomendado por ninguém menos que o Padre Fábio de Melo, defende o fim do celibato eclesial como solução para “os escândalos sexuais envolvendo padres” (v. o jornal “El Mundo”, da Espanha, também disponível na Internet).
Digo isso porque, tendo questionado o próprio professor que recomendou o livro para mim, ele me assegurou que o autor é estritamente católico e que eu não deveria ter “preconceitos” contra ele, ao ler o livro. Ora, não se trata de ter preconceito, mas de conhecer com quem se está lidando.
O fato é que a própria Conferência Episcopal Espanhola (CEE) publicou um longo documento magisterial,
denominado “TEOLOGÍA Y SECULARIZACIÓN EN ESPAÑA. A LOS CUARENTA AÑOS DE LA CLAUSURA
DEL CONCILIO VATICANO II”, refutando, de um a um, todos os erros expressamente consignados no livro do Andrés Torres-Queiruga, e que ofendem gravemente a fé cristã.
A CEE adverte para esses teólogos católicos em dissenso, que procuram semear o erro a partir de dentro da Igreja, e que encontram guarida em editoras católicas, como se vê do seguinte parágrafo do documento da CEE:
“51.Es necesario recordar, además, que existe un disenso silencioso que propugna y difunde la desafección hacia la Iglesia, presentada como legítima actitud crítica respecto a la jerarquía y su Magisterio, justificando el disenso en el interior de la misma Iglesia, como si un cristiano no pudiera ser adulto sin tomar una cierta distancia de las enseñanzas magisteriales. Subyace, con frecuencia, la idea de que la Iglesia actual no obedece al Evangelio y hay que luchar “desde dentro” para llegar a una Iglesia futura que sea evangélica. En realidad, no se busca la verdadera conversión de sus miembros, su purificación constante, la penitencia y la renovación[142], sino la transformación de la misma constitución de la Iglesia, para acomodarla a las opiniones y perspectivas del mundo. Esta actitud encuentra apoyo en miembros de Centros académicos de la Iglesia, y en algunas editoriales y librerías gestionadas por Instituciones católicas. Es muy grande la desorientación que entre los fieles causa este modo de proceder.”
Apenas como referência, tomarei quatro trechos do documento da CEE (que está firmemente baseado no Magistério da Igreja) e quatro trechos do livro de Queiruga que o contradizem frontalmente. Vamos ao texto da mensagem da Conferência Episcopal Espanhola:
“9. Resulta incompatible con la fe de la Iglesia considerar la Revelación, según sostienen algunos autores, como una mera percepción subjetiva por la cual “se cae em la cuenta” del Dios que nos habita y trata de manifestársenos. Aun cuando emplean un lenguaje que parece próximo al eclesial, se alejan, sin embargo, del sentir de la Iglesia.”
Agora transcrevo Queiruga, num trecho em que ele descreve a “experiência” de Moisés exatamente como um “cair em cuenta” de Deus. Após advertir que se deve retirar desse fato [a vocação de Moisés] todos os “lugares comuns espontâneos” que “configuram nossa imaginação”, como “aparições extraordinárias, visão espetacular do divino, claras audições da palavra de Jahweh”, (pág. 49) ele passa a descrever a “experiência de Moisés” com base numa “leitura histórica normal” ou “praticamente normal” (que ele não diz de onde tirou), assim:
“ A partir de sua vivência religiosa, Moisés descobriu a presença viva de Deus na ânsia de seus compatriotas para libertar-se da opressão. A “experiência de contraste” entre a situação fatual de seu povo e o que ele sentia como vontade salvadora de Deus, que quer a libertação do homem, o fez intuir que o Senhor estava ali presente e que o apoiava. À medida que foi conseguindo que essa certeza contagiasse os demais, ajudando-os a descobrir também eles essa presença, suscitou história, promoveu o sentimento religioso e, afinal, criou o javismo.” (Pag. 51, grifo no original.)
Como se não bastasse, o Queiruga ensina, citando um outro autor de uma maneira sibilina, que “a Revelação pertence à autocompreensão de toda religião, que sempre se considera a si mesma criação divina, e não simplesmente humana”. Ele expressamente afirma, também construindo em cima de outra citação sibilina, que “nenhum teólogo sério pretenderá que as Escrituras hebraicas e cristãs, ainda que únicas como manancial da divina revelação [assim mesmo, em minúscula no original] possam se colocar à parte de todas as demais obras em que estão depositadas as crenças religiosas e a experiência espiritual” (pág. 21, dessa vez os grifos são nossos).
Parece que ele, coerente com o manifesto da Associação de Teólogos João XXII contra a Dominus Jesus
que subscreveu, acaba de colocar Ratzinger e João Paulo II no rol dos “teólogos não sérios”, porque a Dominus Jesus claramente diverge dessa posição. Aliás, a Conferência Episcopal Espanhola toda não deve ser constituída de teólogos sérios (no pensar de Queiruga), porque, a respeito dessa ideia do autor, a CEE esclarece:
(...) Es necesario reafirmar que la Revelación supone una novedad[17], porque forma parte del designio de Dios que «se ha dignado redimirnos y ha querido hacernos hijos suyos»[18]. Por ello, es erróneo entender la Revelación como el desarrollo inmanente de la religiosidad de los pueblos y considerar que todas las religiones son “reveladas”, según el grado alcanzado en su historia, y, en ese mismo sentido, verdaderas y salvíficas. La Iglesia reconoce lo que, por disposición de Dios, hay de verdadero y de santo en las religiones no cristianas[19]. Reconoce, además, que «todo lo que el Espíritu obra en los hombres y en la historia de los pueblos, así como en las culturas y religiones, tiene un papel de preparación evangélica»[20], pues su fuente última es Dios. De ahí que sea legítimo sostener que, mediante los elementos de verdad y santidad que se contienen en las otras religiones, el Espíritu Santo obra la salvación en los no cristianos; esto no significa, sin embargo, que esas religiones sean consideradas «en cuanto tales, como vías de salvación, porque además en ellas hay lagunas, insuficiencias y errores acerca de las verdades fundamentales sobre Dios, el hombre y el mundo»[21].
10. La doctrina católica sostiene que la Revelación no puede ser equiparada a las, llamadas por algunos, “revelaciones” de otras religiones. Tal equiparación no tiene em cuenta que «la verdad íntima acerca de Dios y acerca de la salvación humana se nos manifiesta por la Revelación en Cristo, que es a un tiempo mediador y plenitud de toda la Revelación»[22]. Jesucristo, el Hijo eterno del Padre hecho hombre en el seno purísimo de la Virgen María por obra y gracia del Espíritu Santo, es la Palabra definitiva de Dios a la Humanidad. En Cristo «se da la plena y completa Revelación del Misterio salvífico de Dios»[23]. Pretender que las “revelaciones” de otras religiones son equivalentes o complementarias a la Revelación de Jesucristo significa negar la verdad misma de la Encarnación y de la Salvación, pues Él es «el que por su amor sin medida se hizo lo que nosotros para hacernos perfectos con la perfección de Él»[24].
Apenas para não fatigar, cito que Queiruga acusa o Magistério da Igreja Católica de defender a heresia
monofisicista, ao afirmar, a respeito do tema da consciência de Jesus, que “a teologia clássica trabalhou com um esquema vertical e no fundo – como tantas vezes assinalou Karl Rahner – monofisicista: Jesus chegou a terra sabendo já de tudo, e sua missão [para a teologia tradicional] consistiu em ir revelando-nos isto aos poucos”.
Queiruga defende, em seguida, na página 72, que “nem sequer há razão para excluir o 'erro humano'” na
pregação de Jesus, porque “em tal erro Jesus partilharia simplesmente a nossa sorte, pois para o homem
histórico e, portanto, também para Jesus, é melhor 'errar' do que saber tudo de antemão”. Esse absurdo sobre Cristo, já defendido por nestorianos e agnoetas, cristaliza-se numa passagem claramente herética de Queiruga, em que ele nega a consubstancialidade de Jesus com o Pai e a própria unidade da Trindade, negando a divindade do Filho, pág. 73:
“A relação única e insuperável de Jesus não fica, assim, nivelada [com o Pai?], porém sua realização concreta insere-se de pleno direito no modo humano da vivência e da apropriação, na mesma linha da tradição profética [nega a divindade e transforma Jesus num profeta?]e, em geral, de todo esforço religioso por captar a manifestação de Deus.”
A respeito ainda da cristologia, destaco o trecho da página 34 em que o autor ensina que a divindade de
Jesus não é real, mas apenas imanente, um “mestre e revelador” que “constituiu-se para a experiência original [portanto apenas subjetiva e imanentemente] na figura real e palpável da revelação de Deus.” Esse mesmo Jesus já não está presente em Sua Igreja e sacramentos, porque “Ele próprio [Jesus], numa transformação cheia de conseqüências, passa de 'pregador' a 'objeto de pregação'”. Retirando o fato de que essa idéia de Jesus como simples “mestre e revelador”, somada com o acolhimento da noção de Deus como um “plano de Potência” (pág. 22) têm um cheiro maçom muito forte, a discussão a respeito da distinção entre o “opaco” Jesus histórico e o “mediado” Cristo da fé acaba com essa incrível colocação do Queiruga:
“Não existe vida de Jesus “em estado puro'. Nem fatos, nem palavras... nem “revelação”. Isso que chamamos revelação – que assinalamos presente como um fato e que tentamos interpretar em seu significado – dá-se somente na densidade do humano: no laborioso processo das tradições, na capacidade cultural do ambiente e nas possibilidades da língua, no esforço por responder as perguntas e necessidades
concretas das diversas comunidades, na reflexão teológica de figuras individuais (Paulo) ou de escolas determinadas (João?)” (pág. 70, grifos nossos).
Chegamos a um livro sobre Revelação de Deus, este do Queiruga, que nega a própria Revelação!
A esse respeito, e corrigindo com maestria o Queiruga, adverte o magistério da CEE:
“25. Sin embargo, no siempre se han mantenido de manera completa los elementos esenciales de la fe de la Iglesia sobre la Persona y el mensaje de Jesucristo. Planteamientos metodológicos equivocados han llevado a alterar la fe y el lenguaje em que esta fe se expresa. En muchas ocasiones se ha abusado del método históricocrítico sin advertir sus límites, y se ha llegado a considerar que la preexistencia de la Persona divina de Cristo era una mera deformación filosófica del dato bíblico. Cuando esto ha sucedido, no ha dejado la Iglesia de confesar la fe verdadera, reafirmando la validez del lenguaje con el que proclama que «Jesucristo posee dos naturalezas, la divina y la humana, no confundidas, sino unidas en la única Persona del Hijo de Dios». El abandono de este lenguaje de la fe cristológica ha sido causa frecuente de confusión y ocasión para caer en el error
26. «Toda la vida de Cristo es acontecimiento de revelación: lo que es visible en la vida terrena de Jesús conduce a su Misterio invisible». Las palabras, los milagros, las acciones, la vida entera de Jesucristo es revelación de su filiación divina y de su misión redentora. Los evangelistas, habiendo conocido por la fe quién es Jesús, mostraron los rasgos de su Misterio durante toda su vida terrena. La Revelación de los misterios de la vida de Cristo, acogida por la fe, nos abre al conocimiento de Dios y a la participación en
su misma vida. En la Liturgia, en cuanto «ejercicio de la función sacerdotal de Jesucristo», la Iglesia celebra lo que nuestra fe confiesa, de modo que podemos entrar en comunión verdadera con los misterios de Cristo. «Todo lo que Cristo vivió hace que podamos vivirlo en Él y Él lo viva en nosotros». Una honda cristología mostrará la continuidad entre la figura histórica de Jesucristo, la Profesión de fe eclesial, y la comunión litúrgica y sacramental em los Misterios de Cristo.
27. Constatamos con dolor que en algunos escritos de cristología no se haya mostrado esa continuidad, dando pie a presentaciones incompletas, cuando no deformadas, del Misterio de Cristo. En algunas cristologías se perciben los siguientes vacíos: 1) una incorrecta metodología teológica, por cuanto se pretende leer la Sagrada Escritura al margen de la Tradición eclesial y con criterios únicamente histórico-críticos, sin explicitar sus presupuestos ni advertir de sus límites; 2) sospecha de que la humanidad de Jesucristo se ve amenazada si se afirma su divinidad; 3) ruptura entre el “Jesús histórico” y el “Cristo de la fe”, como si este último fuera el resultado de distintas experiencias de la figura de Jesús desde los Apóstoles hasta nuestros días; 4) negación del carácter real, histórico y trascendente de la Resurrección de Cristo, reduciéndola a la mera experiencia subjetiva de los apóstoles; 5) oscurecimiento de nociones fundamentales de la Profesión de fe en el Misterio de Cristo: entre otras, su preexistencia, filiación divina, conciencia de Sí, de su Muerte y misión redentora, Resurrección, Ascensión y Glorificación.
28. En la raíz de estas presentaciones se encuentra con frecuencia una ruptura entre la historicidad de Jesús y la Profesión de fe de la Iglesia: se consideran escasos los datos históricos de los evangelistas sobre Jesucristo. Los Evangelios son estudiados exclusivamente como testimonios de fe en Jesús, que no dirían nada o muy poco sobre Jesús mismo, y que necesitan por tanto ser reinterpretados; además, en esta interpretación se prescinde y margina la Tradición de la Iglesia. Este modo de proceder lleva a consecuencias difícilmente compatibles con la fe, como son: 1) vaciar de contenido ontológico la filiación divina de Jesús; 2) negar que en los Evangelios se afirme la preexistencia del Hijo; y, 3) considerar que Jesús no vivió su pasión y su muerte como entrega redentora, sino como fracaso. Estos errores son fuente de grave confusión, llevando a no pocos cristianos a concluir equivocadamente que las enseñanzas de la Iglesia sobre Jesucristo no se apoyan en la Sagrada Escritura o deben ser radicalmente reinterpretadas. “
Apenas para terminar, passo a citar trechos em que ele demonstra seu pouquíssimo afeto ao Magistério. Depois de asseverar na página 39 que os documentos em que o Concílio de Trento assevera a fé da Igreja de que Deus é o autor real das Escrituras e a Tradição representam apenas “metáforas elas mesmas já um tanto endurecidas”, ele afirma categórica e equivocadamente que que o Concílio Vaticano II “corta toda a terminologia filosófica da causa instrumental e, mesmo conservando a denominação de Deus como autor, afirma paralelamente que os escritores inspirados também são veri auctores (Dei Verbum 11). Fica assim [segundo a lógica torta do Queiruga, que está sendo divulgada como boa teologia por aí] bem salientado o caráter analógico e metafórico da expressão”. Enfim, a verdadeira autoria de Deus, para ele, é apenas uma metáfora, e “já um tanto endurecida”! E manifesta sua opinião de que os preciosos documentos do Vaticano II são um “inapreciável ponto de chegada para aspirações muito urgentes e legítimas” (pág. 44). Quais seriam essas aspirações, ele não deixa claro. Mas, além de levar à negação da Revelação, da divindade de Jesus, da transcendência do Cristianismo e da verdadeira autoria divina sobre as Escrituras e a Tradição, as aspirações parecem envolver, como vimos, o fim do celibato clerical, da autoridade magisterial e, quem sabe, junto com sua “Asociación Juan XXIII” [que uso vão do nome belo desse santo Papa], o casamento homossexual, a ordenação feminina, o aborto e outras cositas más.
Denunciando essa falsa teologia “católica”, que desrespeita o magistério, o documento espanhol
assevera:
“17. Tenemos en el Magisterio de la Iglesia la garantía para explicar correctamente la Revelación de Dios. Como la Alianza instaurada por Dios em Cristo tiene un carácter definitivo, es necesario que esté protegida de desviaciones y fallos que puedan corromperla; para garantizar esta permanencia en la verdad, Cristo dotó a la Iglesia, especialmente a los pastores, con el carisma de la infalibilidad, que se ejerce de diversas maneras. Suscitar dudas y desconfianzas acerca del Magisterio de la Iglesia; anteponer la autoridad de ciertos autores a la del Magisterio; o contemplar las indicaciones y los documentos magisteriales simplemente como un “límite” que detiene el progreso de la teología, y que se debe “respetar” por motivos externos a la misma teología, es algo opuesto a la dinámica de la fe cristiana.”
Este autor, que atualmente está afastado do sacerdócio e proibido de ensinar em seminários na sua própria diocese, está sendo, atualmente, estudado pela Conferencia Episcopal espanhola, para possível restrição à sua obra como um todo. Péssima recomendação do Pe. Fábio.
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