Quem nunca ouviu falar da Arca da Aliança? Só quem nunca leu a Bíblia...
Mas vamos lembrar-nos juntos. Moisés, com o povo de Deus no deserto, recebeu as tábuas da Lei. Mais tarde as depositou numa arca , quer dizer, numa grande caixa que o próprio Deus mandou que ele fizesse, dando-lhe instruções muito precisas para isso (a descrição da Arca está no livro do Êxodo, capítulo 37). Vejamos como Moisés procedeu com as tábuas da Lei:
Êxodo 40,20: “Tomou o testemunho e colocou-o na Arca, meteu os varais na Arca e colocou nela a tampa.”
Logo após, veio a nuvem da Glória do Senhor e cobriu o tabernáculo onde a Arca fora depositada:
Êxodo 40,34: “Então a nuvem cobriu a Tenda da Congregação, e a Glória do Senhor encheu o Tabernáculo”.
Uma descrição mais precisa ainda dessa nuvem está em Números 9, 15 a 22.
Eis que a Arca era santa, porque continha a Lei de Deus, entregue pessoalmente a Moisés e por ele depositada ali. E a Glória do Senhor, em forma de nuvem, cobriu o tabernáculo, onde a Arca estava depositada, inclusive mais tarde, quando Salomão fez o magnífico Templo do Senhor. Ver 2Crônicas 5, 13.
Tão santa era a Arca que santificava os levitas que a carregavam, como está em 1Crônicas 15,12. Ali está dito: “Santificai-vos, vós e vossos irmãos, e fazei subir a Arca de Iaveh, Deus de Israel, para o lugar que lhe preparei.”
Aliás, sobre a arca e seu transporte, e a santidade com que o Espírito Santo a envolvia, é necessário ler com muito cuidado o trecho narrado em 2 Samuel 6. Davi, o ungido de Deus, está transportando a Arca do Senhor, com Uza e Aio, dois servidores seus, conduzindo o carro e trinta mil soldados da elite do exército de Israel os seguindo. Davi e toda a casa de Israel dançavam diante de Iahveh durante esse transporte. Mas ocorreu um incidente: os bois fizeram o carro balançar, e para evitar que a Arca tombasse, Uza estendeu a mão para Ela e a sustentou. “Então a ira de Iahveh se acendeu contra Uza” e ele morreu ali mesmo.
Nesse momento, Davi, o ungido, Rei de Israel escolhido por Deus, teve medo de Deus e disse: “Como virá a Arca do Senhor para ficar em minha casa?” (2Sam 6,9). Assim, Davi resolveu levar a Arca para a casa de Obed-Edom, de Get, a quem o Senhor abençoou com toda a família. “E a Arca do Senhor ficou três meses na casa de Obed-Edom, a quem o Senhor abençoou com toda a sua Família” (2Sam 6,11).
Depois desses três meses, a Arca é levada para Jerusalém, e mais uma vez Davi e o Povo de Deus dançam e tocam com toda a alegria para o Senhor, à frente da Arca (2Sam 6,15).
A Arca era objeto de veneração na antiga Aliança; ela continha a Lei. Ninguém poderia jamais acusar os Israelitas, muito menos Davi, de cuja descendência viria o próprio Jesus, de idolatria à Arca, apesar disso. Seu respeito, sua veneração a esse objeto tão lindamente ornado de belas imagens sacras (um querubim de cada lado do propiciatório, Ex. 37, 8) era cumprimento dos desígnios do próprio Senhor Deus, como vimos. A ele o Povo de Deus da antiga Aliança prestava a veneração devida, sob preço de morte, como vimos. Ornado de imagens de ouro, como determinado por Deus, ninguém nunca ousou acusar, por isso, os israelitas de idólatras ou de cultores de imagens. Veneravam esse objeto sagrado, porque Deus determinara sua feitura, e porque nele estavam depositadas as Tábuas da Lei, entregues a Moisés pelo próprio Senhor. Isso – a presença da Lei – tornava santo e digno de veneração esse objeto inanimado.
Os israelitas sabiam, portanto, a diferença entre o culto de adoração – devido apenas a Deus, e a veneração da Arca e de suas santas imagens, respeito que era devido por ordem de Deus e punido com a morte dos transgressores, mesmo involuntários, como Uza em 2Sam 6, 7. A presença das imagens na Arca foi ordem expressa de Deus, como vimos no trecho bíblico citado. Ora, o mesmo Senhor havia dado aos hebreus a ordem de “não fazer imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra” (Ex. 20, 4). Ninguém nunca acusou os hebreus de romperem esse mandamento por terem esculpido as imagens dos querubins, como ordenado pelo Senhor (Ex. 37), e colocado na tampa da Arca. Eles sabiam muito bem a diferença entre fazer imagens para idolatria, infringindo esse mandamento, e fazer as imagens que o senhor ordenava fazer, para sua veneração. A proibição sempre foi a de “não fazer deuses de prata, ao lado de mim, nem fazer deuses de ouro, para vós” (Ex. 20,23). Quer dizer, não fazer imagens de falsos deuses, para colocar ao lado do senhor ou em seu lugar, como fizeram com o bezerro de ouro (Ex. 32). Mas essa proibição nunca incluiu as imagens que o próprio Senhor determinava ao povo fazer, como os querubins da Arca e que recebiam culto de veneração.
Seguindo um pouco mais por esse assunto da veneração das imagens santas, diversa da adoração de ídolos, note-se que Deus determina a Moisés fazer uma serpente de bronze (Num. 21, 4-9), a quem, elevada, os hebreus mordidos pelas cobras deviam venerar para não morrer. Essa serpente era venerada porque “quem se voltava para ela era salvo, não em virtude do que via, mas graças a Ti [Iahveh], o Salvador de todos” (Sabedoria 16, 7, livro que infelizmente as bíblias ditas “evangélicas” nem sempre trazem. É uma tristeza que as bíblias “evangélicas” não tenham Sabedoria). Ou seja, a serpente de bronze não tinha nenhum valor em si mesmo, mas apenas devia lembrar aos hebreus sobre a santidade de Deus. Ocorre que os hebreus, mais tarde, esqueceram-se disso e passaram a prestar à serpente culto de adoração, oferecendo-lhe incenso. Por isso o Rei Ezequias a destruiu, reduzindo-a a pedaços (2Reis 18, 4). Quando o objeto feito por ordem de Deus é desvirtuado, e deixa de ser venerado para ser adorado, deve ser destruído. Isso não significa que o objeto em si fosse ruim, porque o Senhor não é contraditório. Não mandaria fazer um objeto ruim em si mesmo. Significa, isto sim, que há uma diferença entre respeitar um objeto sagrado que faz lembrar o senhor (veneração) e idolatrar imagens, o que não pode nem deve ser tolerado.
Voltando ao nosso assunto, é impossível não notar o paralelo forte entre essa descrição da Arca e de seus rumos e o mistério do Senhor em Maria. Vejamos o momento em que Maria, avisada pelo Anjo do Senhor de que sua parenta Isabel estava grávida, vai visitá-la (Lucas 1, 39 e seguintes). Surpreendida, Isabel, repleta do Espírito Santo, exclama:
“Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?”
Nota-se aqui, claramente, o paralelo entre essa fala de Isabel e a fala de Davi quando recebe em sua casa a visita da Arca:
“Como entrará a Arca do Senhor na minha casa?” (2Sam 6,9, já citado acima).
O paralelismo é impressionante. Davi dança em frente à Arca (2Sam 6,5, e 2Sam 6,14 , já citados acima) como João Batista salta de alegria no ventre de Isabel apenas ao som da voz de Maria (Lucas 1, 44). Como se não bastasse, a Arca passa três meses na casa de Obed-Edom (2Sam 6,11), abençoando-o e à família dele, do mesmo modo que Maria permaneceu com Isabel “três meses, depois voltou para casa” (Lucas 1,56), abençoando com o espírito Santo a Isabel e à criança que esta carregava ainda no ventre. Serão coincidências? Não creio. Não acho que a palavra de Deus faça brincadeiras conosco. E tudo isso está lá na bíblia, para quem quiser conferir.
Não se pode deixar de notar, portanto, o paralelo impressionante entre Maria, na nova Aliança, e a Arca, na antiga. Lembremo-nos do Evangelho de João, que nos ensina que “a Lei nos foi dada por Moisés, mas o amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo”. (João 1, 17). Ora, se a nuvem da Glória do Senhor encheu o Templo porque a Lei de Moisés estava na Arca, como deixar de notar que a nuvem da sombra do Altíssimo veio sobre Maria porque o Verbo, o Amor de Jesus, estava nela? É só ler em Lucas, 1, 35.
Note-se que mesmo os levitas que carregavam a Arca da Antiga Aliança santificavam-se por carregá-la, como já foi transcrito acima (1Cron 15,15), imagine como foi santificada por Deus aquela que carregou o próprio Amor!
Vale lembrar, aqui, as palavras de Salomão: “É possível Deus habitar com os homens na terra? Se os céus e os céus dos céus não o podem conter, muito menos esse templo que construí!” (2Crôn 6,18).
Honra a ti, Maria, viva no céu, testemunha entre as testemunhas que nos cercam como nuvens, intercessora como Moisés e Elias no monte da Transfiguração, tu, mãe de Deus, em quem Deus veio habitar, e que conteve em si Aquele que, segundo o grande Salomão, nem os céus nem os céus dos céus podiam conter! Sendo os céus e os céus dos céus o que há de maior na criação de Deus, tu és, portanto, maior do que os céus e os céus dos céus, és, segundo o sábio Salomão, a maior de todas as criaturas, maior até do que os céus dos céus, porque contivestes em ti aquele que nem os céus dos céus podem conter.
Maria é a nossa Arca, a Arca verdadeira, aquela que a antiga arca prenunciava. A Arca antiga continha as tábuas da Lei de Deus. A nossa nova Arca, Maria, contém o próprio Deus, Aquele a quem nem os céus dos céus podem conter.
Mas os que conhecem um pouco de história sagrada sabem que a arca antiga está perdida há muitos anos, milênios até. A última notícia encontra-se no livro histórico dos Macabeus, (mais precisamente em 2Macabeus 2, 4-8). Lamentavelmente os irmãos separados não têm esse livro na sua bíblia, desobedecendo ao conselho de Lutero que os exortava a consultá-los ao menos por seu valor histórico e espiritual (sendo que sabemos, nós que estamos na Santa Igreja de Jesus, que se trata de um livro deuterocanônico plenamente inspirado). Se o tivessem, leriam o seguinte a respeito da velha Arca:
“O profeta, avisado por oráculo, mandou que a tenda e a Arca o acompanhassem, quando ele foi à montanha sobre a qual Moisés subiu para contemplar a herança de Deus. Ao chegar, Jeremias encontrou uma espécie de gruta, onde colocou a Tenda, a Arca e o Altar do Incenso. Em seguida, tapou a entrada. Mais tarde, alguns dos que tinham acompanhado Jeremias foram até aí para indicar o caminho, mas não conseguiram encontrar a gruta. Quando soube, Jeremias os repreendeu dizendo: “ O lugar ficará desconhecido, até que Deus se mostre misericordioso e reúna novamente toda a comunidade do povo. Então o senhor mostrará esses objetos. A Glória do Senhor e a nuvem também vão aparecer, como apareceram no tempo de Moisés, e quando Salomão pediu que Deus santificasse gloriosamente o lugar.” (2Mac 2, 4-9).
A julgar por essa profecia, há um pressuposto e dois sinais para que a Arca volte a ser mostrada por Deus, que a ocultou por tanto tempo. O pressuposto é que “Deus se mostre misericordioso e reúna novamente toda a comunidade do povo”. Quem é a comunidade de Deus reunida? Para nós, cristãos, é a Igreja, “coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tim 3, 14). O pressuposto existe.
Basta então procurar na Bíblia os dois sinais exigidos, e encontraremos, num trabalho de detetive, a Arca. Onde estão a Glória do senhor e a nuvem?
A Glória de Deus é Jesus Ressuscitado, isso é óbvio. E a nuvem? Ora, a sombra do Altíssimo cobriu Maria (Lucas 1,35), para que ela concebesse a Jesus. Essa mesma nuvem o ocultou,quando ele foi elevado à plenitude de Sua glória, no céu (Atos, 1, 11).
É inevitável, portanto, que quando todos os elementos de uma profecia se reúnem, ela se cumpra. E de fato a arca nos reaparece, na figura de Maria. Dessa vez não mais um objeto inanimado, mas a própria Mãe de Deus e nossa. Ei-la:
“Abriu-se o véu do Templo de Deus, que está no céu, e apareceu no templo a Arca da Aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de pedras.” (Apocalipse 11,19).
Pois bem, nesse exato momento em que a Arca reaparece no Templo celeste de Deus, “surge um grande sinal no céu, uma mulher revestida de sol” (Apocalipse 12, 1). Essa mulher, grávida, dá à luz o Filho, um varão que “regerá todas as nações com cetro de ferro”. Mas esse filho “foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono (Apocalipse 12, 5).
A arca reaparece, na figura de uma mulher que dá á luz um filho homem que regerá todas as nações com cetro de ferro e foi arrebatado para junto de Deus e seu trono. Quantas mulheres, na Bíblia, ajustam-se a essa descrição? Só uma. Só Maria. A nova e eterna Arca. No mais, é um véu sobre os olhos dos que não podem ver a Revelação na sua plenitude, os que estão cegos quanto a Maria. O mesmo texto do Apocalipse diz que o Dragão combaterá contra os descendentes da Mulher, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus. Pessoalmente, prefiro estar entre os descendentes da Mulher (Ap 12,17), entre os veneradores da nova Arca, os que venceram pelo sangue do Cordeiro (Ap 12, 11). Quem não quiser reconhecer a Mulher, que fique ao lado do dragão.
Está na Bíblia. Está na fé da Igreja.
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