Jesus é uma pessoa, é Deus e homem, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, corpo, sangue, alma e divindade. Indiviso, porém. Somos, também, cada um de nós, uma só pessoa, corpo, sangue e alma, mas uma só pessoa. Corpo e sangue recebemos de nossos pais. Alma espiritual, criada diretamente por Deus na nossa concepção.
Nem por isso, por termos corpo e sangue gerados por nossos pais biológicos e alma criada diretamente por Deus nós dizemos que nossos pais são pais apenas do nosso corpo. Eles são, isso sim, pais de cada um de nós, da nossa indivisibilidade essencial. Deus, criador da nossa alma espiritual, é, para nós, do ponto de vista natural, o criador, mas não o pai. Meus pais são fulano e beltrana, como consta da minha certidão de nascimento. É certo que pelo batismo, torno-me filho adotivo de Deus, na graça de Jesus Cristo (Efésios 1,5). Isso não retira dos meus pais biológicos a condição integral de pais meus, na minha indivisibilidade essencial.
Se somos filhos das nossas mães e dos nossos pais, que geraram nosso corpo e não nossa alma, é exatamente porque a pessoa humana é a integralidade de corpo e alma, como a pessoa de Jesus é filha de Maria na sua indivisibilidade essencial. Está na Bíblia, e assim tem sido lido pelos cristãos desde os tempos mais remotos. Vejamos os textos bíblicos:
Lucas 1,43: Isabel, repleta do Espírito Santo, antes mesmo de saber de gravidez de Maria, dirige-se a ela com essas palavras: “De onde me vem que me venha visitar a mãe do meu Senhor?”
Mt 2, 13-14: O Anjo do Senhor manifesta-se em sonho a José e diz: “dispõe-te, toma o menino e sua mãe (...)” E José, advertido assim pelo anjo, “tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito...”
Vê-se, portanto, nos dois textos citados, que a condição de mãe de Deus, relativa a Maria, é objeto de expressa menção, atestada sobrenaturalmente nas citações acima, da primeira vez pelo próprio Espírito Santo, da segunda, pelo Anjo do Senhor. Quem poderá negar, portanto, que Maria é mãe de Deus?
Na verdade, essa negativa já ocorreu na antiguidade, contra a palavra bíblica do Espírito Santo e do Anjo do Senhor. Nestório, de sua cátedra em Constantinopla (428-431) considerava incorreto dizer que o Verbo nasceu de Maria, ou que Maria é mãe de Deus, ou que Deus morreu na cruz. Segundo ele, Maria seria apenas a mãe de Jesus, em quem Deus habitou acidentalmente, vale dizer, mãe da pessoa humana Jesus em quem Deus, independentemente, veio habitar. Ele escreveu isso numa carta a Cirilo de Alexandria.Em 22.06.431, Cirilo responde a Nestório com muita firmeza:
“Porque [Jesus] não nasceu de Maria primeiramente como um mero homem, e depois teria descido sobre ele o Verbo; mas dizemos que unido [à natureza humana] desde o seio materno, nasceu ele segundo a carne, pois fez seu o nascimento de sua própria carne (...)
Por isso não tiveram dúvidas em chamar mãe de Deus à Santa Virgem, não porque a natureza do Verbo ou sua divindade tivesse tomado da Santa Virgem a origem do seu ser, mas porque dela se formou aquele sagrado Corpo, animado de uma alma racional, do qual, unido ao Verbo segundo a hipóstase, dizemos nascido segundo a carne.”
Pode-se ver, portanto, que essa heresia (quer dizer, essa afirmação desmotivada, contra a revelação bíblica feita pelo Espírito Santo a Isabel e pelo Anjo do Senhor a Maria) é antiga, e já foi corretamente desmentida pelos verdadeiros crentes sempre que foi levantada.
Alguém poderia objetar: mas que importância tem isso, se tudo isso aconteceu há tanto tempo? Onde está, perguntariam esses que insistem em contrariar o Espírito Santo e o Anjo do Senhor na Bíblia, essa Maria agora?
Está viva, responderíamos. Plenamente viva. É o que nos diz Jesus, em Marcos 12, 26-27:
“Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou:
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o deus de Jacó?
Ora, Ele não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.”
Acreditamos, portanto (porque Jesus nos revela na Bíblia) que ele é o Deus dos vivos. Ora, se ele é o Deus dos Vivos, com absoluta certeza a mãe de Deus está viva.
Ora, objetariam alguns, que importância tem para nós ela estar viva? Os que morreram na glória de Jesus já não teriam mas nada a ver conosco, estão no seio de Deus, já nada podem fazer por nós, estamos aqui isolados deles. Os que falam assim não conhecem a Bíblia. De fato, na Epístola aos Hebreus, no capítulo 11, vemos a enumeração dos fiéis que já haviam morrido no tempo de Paulo, uma verdadeira lista de amigos de Deus que repousam em Sua glória. E o que a Bíblia nos diz deles? Que eles formam uma “nuvem de testemunhas ao nosso redor” (Hebreus 12, 1). ora, testemunhas dão seu testemunho, não são cegas para o que acontecem, ou já não podem testemunhar. Mas aqueles que Jesus assegurou que estão vivos (Mc 12, 26-27) não estão apenas vivos numa glória distante e abstrata, mas formando uma “nuvem de testemunhas” ao nosso redor...
Essas testemunhas de fato importam-se conosco, dão-nos a segurança de poder correr “com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o iniciador e consumador da fé, Jesus”. (Hebreus 12, 1). São essas testemunhas que nos ajudam a não desviar Dele. E não há testemunha maior do que aquela que por primeiro recebeu a mensagem da redenção (Lc 1,31).
Jesus dá a sua comprovação bíblica de que essas testemunhas nos cercam e se importam conosco de verdade. Ao transfigurar-se no monte, Jesus conversa com Moisés e Elias (Mateus 17, 3), que lhe apareceram. Note-se, na Bíblia, que Pedro, ainda aqui neste mundo carnal, dirige-lhes tranquilamente a palavra, propondo-lhes fazer três tendas, uma para Jesus, uma para Moisés, uma para Elias. Moisés e Elias são duas dentre as testemunhas (Hebreus 12, 1) que estão plenamente vivas em Deus (Marcos 12, 26-27) e que se importam conosco a ponto de aparecer-nos a conversar tranquilamente com Jesus (Mateus 17, 3). Se essas testemunhas nos cercam e se importam conosco, estou certo de que ninguém pode importar-se mais conosco do que aquela que é mãe de Deus, que é testemunha a nos cercar para manter os nossos olhos fixos n'Ele e que conversa claramente com Ele como Moisés e Elias fizeram um dia para que víssemos.
Se somos, portanto, filhos adotivos de Deus (como diz a Bíblia e acima transcrevemos), só nos resta, como bons filhos, “honrar Pai e Mãe”, vale dizer, Deus nosso Pai e Maria, sua Mãe. Obedeceremos aos mandamentos tão claros consignados em Êxodo 20,12 (Honra teu pai e tua mãe), Levítico 19, 3 (Cada um respeitará seu pai e sua mãe) ou, no Novo Testamento, Efésios 6,2: “honra teu pai e tua mãe).
Honra devida a nosso pai e nossa mãe da terra, Honra devida ao Pai e à Mãe do céu.
Se me permitem uma palavrinha pessoal, eu acrescentaria que, pelo imenso amor que tenho a minha mãe da terra, tenho em casa várias fotos daquela que me trouxe ao mundo. Aliás, ando com sua foto na minha carteira.
Tenho visto, também, em viagens que faço, estátuas de mulheres importantes em vários países que visitei, rainhas, mães de imperadores, princesas, primeiras-damas, mulheres presidentes. Nunca vi nem ouvi ninguém criticar-me por ter fotos da minha mãe da terra, nem a eses povos e governos por ter estátuas e pôsteres dessas mulheres que foram poderosas e importantes para eles em algum tempo. Tudo isso honra muito a nossa mãe terrena, os nossos povos da terra, os nossos governantes.
Por isso tudo, pessoalmente gosto de honrar a minha mãe do céu de modo semelhante – uma foto dela, um quadro que dela me lembre, uma estátua no meu quarto. Alguns não entendem, não me importo. Cumpro o mandamento de Deus, honrando pai e mãe da maneira que posso.
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